Sempre soube que alguma coisa dentro da minha cabeça era um tanto quanto diferente.
Na última semana, ao compartilhar uma reflexão nas notas do Substack sobre as inspirações para escrever, notei que muitos leitores também tinham essa sensação de serem diferentes e viverem processos criativos não tão convencionais.
Muitos responderam que se sentem mais inspirados quando estão vivendo momentos de tristeza, melancolia ou inquietação. Essa reação me fez pensar em uma antiga lenda que ronda pelo mundo dos criativos: a de que o sofrimento emocional pode ser uma fonte profunda de inspiração e autenticidade artística.
Eu ouso adicionar uma provocação para essa hipótese: será que todo criativo tem uma certa dose de extravagância?
Para desvendar esse mistério, busquei inspiração na obra da escritora Rosa Montero que li recentemente e acalmou tantas dessas minhas (e nossas) intrigantes inquietações: “O perigo de estar lúcida”.
E como autêntica alma criativa, também vou compartilhar insights da minha própria experiência nesse planeta Terra e alguns flashs do meu repertório excêntrico.
Aviso aos navegantes: esse texto pode conter algumas provocações, confissões e ironias, então já aprenda a primera regra do clube da luta inquietação criativa: Você não fala sobre o clube da luta. Ops, não é essa. É essa aqui: não leve as coisas tão a sério e adicione um tempero de excentricidade nas suas lentes para enxergar o mundo.
Flertando com a excentricidade
Desde que me entendo por gente, tenho um certo fascínio por personagens excêntricos. Sejam eles reais ou fictícios, basta uma dose de não convencionalidade para ganhar a minha atenção.
Isso explica o meu crush pelo personagem “O Pestinha” na minha infância - sem julgamentos.
Hoje como astróloga entendo que essa atração por tudo que é fora do comum pode ser explicada pela minha Vênus em Aquário - o signo que você tem sua vênus mostra as coisas/pessoas pelas quais você sente esse magnetismo e interesse.
Enquanto escrevia essa edição, fiz uma lista sobre os personagens fictícios (do cinema , tv e literatura) que mais tive conexão ao longo da minha vida e o resultado foi esse:
Top 7 dos meus personagens excêntricos favoritos (não necessariamente nessa ordem)
1 - Coragem, o Cão Covarde
2 - Beetle Juice
3 - Emília - do Sítio do Pica Pau Amarelo
4 - A Lagarta (da Alice no País das Maravilhas)
5 - O vilão “Ele” do desenho As Meninas Super Poderosas (era um queer)
6 - Luna Lovegood da obra Harry Potter
7 - Willy Wonka e Oompa-Loompas
Isso sem contar em personalidades de carne osso que também deixaram uma marca excêntrica no mundo e são grandes inspirações para mim: Rita Lee, Salvador Dalí, Fred Mercury, Cyndi Lauper, Ney Matogrosso e afins…
Conhece algum desses que listei?
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A verdade é que “todos guardamos no fundo do nosso coração alguma divergência. Somos todos esquisitinhos, embora, é verdade, uns mais do que outros” - disse Rosa Montero no livro.
Como co-founder de uma agência de Branding não convencional ( a Unboring) posso te afirmar com todas as letras: em um mercado sem graça e repleto de cópias, ser excêntrico é um grande diferencial.
Mas é preciso uma boa dose de coragem para compartilhar as suas “estranhezas”.
Alguns criativos foram verdadeiros gênios para expressarem essas loucuras multifacetadas, como o próprio autor português Fernando Pessoa, que publicou obras de arte em nome dos seus heterônimos, cada um com uma personalidade, estilo e visão de mundo distintos. Ele criou mais de 70 heterônimos ao longo de sua vida e alguns dos mais famosos incluem:
Alberto Caeiro: Representa a voz da natureza, a simplicidade e a aceitação da realidade como ela é.
Ricardo Reis: Reflete uma visão classicista e estoica, focada na brevidade da vida e na importância de viver com dignidade.
Álvaro de Campos: Caracteriza-se pelo futurismo, pela intensidade emocional e pela reflexão sobre a modernidade.
A pessoa tem que ser no mínimo genial para criar personalidades tão distintas e criações fascinantes em nome de cada uma delas.
Intrigada por essa particularidade de Fernando, fui pesquisar mais sobre a vida dele e eis que encontro informações bem interessantes:
Ele tinha um profundo interesse pelo misticismo e o esoterismo. Estudou astrologia, ocultismo e diversas tradições esotéricas.
O "eu lírico" em Fernando Pessoa é uma ferramenta complexa e multifacetada que ele utiliza para explorar diferentes aspectos da existência humana, da mente e do cosmos.
Além disso, experiências em diferentes países contribuíram para sua visão multifacetada do mundo: o tal do repertório.
Mais uma vez fica evidente que para criar obras tão originais e excêntricas, você precisa alimentar o seu repertório criativo com insumos diferentes - e não convencionais. Quem diria que um poeta do Modernismo encontraria inspiração nas tradições esotéricas, não é mesmo? Pois pode ter certeza que foi essa combinatividade singular o tempero secreto para o legado que ele deixou.
Um tempero agridoce….
Ano passado tive a honra de literalmente “entrar na cabeça do Tim Burton”, diretor e criador visual do filme Beetle Juice e responsável por dar vida a outros personagens foras de série como Edward Mãos de Tesoura, Sweeney Todd, A Noiva Cadáver, Alice, Willy Wonka e mais um monte….
Visitei a exibição “THE WORLD OF TIM BURTON” durante a minha viagem para Torino na Itália em outubro do ano passado e pude mergulhar no universo criativo do diretor. O núcleo principal da exposição focava no arquivo pessoal dele, mostrando uma variedade incrível de sua produção criativa, como documentos preciosos, desenhos, esboços e a própria réplica do estúdio/escritório de Tim.
O seu estilo único, que mistura o macabro com o cômico é um tanto quanto peculiar e desperta um encantamento em seus expectadores.
Enquanto estava imersa na exibição, percebi algumas particularidades em toda a expressão criativa de Tim Burton que me inspiraram a buscar mais informações sobre a sua história. Assim como no caso de Fernando Pessoa, também encontrei fatos curiosas sobre Tim:
O primeiro deles é que Burton afirma ter sido uma criança solitária e quieta, com dificuldade para se expressar verbalmente. Por isso encontrou nos desenhos uma forma de se comunicar.
Eles também diz que a palavra “normal” sempre o assustou porque ela indicava algo subversivamente aterrorizante.
Teve como grande inspiração a literatura gótica e o movimento expressionista alemão, que foi a base para o cinema macabro. Essas referências eram um tanto quanto avessas para a época. Aliás, sabia que Tim foi demitido dos Estúdios Walt Disney por ter sido considerado macabro demais? Chocante.
Burton frequentemente incorpora seus sentimentos e experiências pessoais em suas obras. O senso de estranheza e de se sentir um peixe fora d’água que ele explora em seus filmes reflete suas próprias experiências de se sentir deslocado ao longo da vida.
Em uma de suas entrevistas, ele declarou: "Qualquer pessoa com ambições artísticas está sempre tentando se reconectar com a maneira como via as coisas quando era criança".
No final das contas, tudo o que vivemos na nossa infância reflete na forma como criamos e vemos o mundo. E as nossas excentricidades também podem ser reflexos da nossa criança interior.
Inspiração ou Dissociação?
Desde a infância, eu era naturalmente criativa e cheia de imaginação. A ponto de inventar histórias mirabolantes que misturavam fantasia com a realidade.
Só que por trás dessa energia lúdica, tinha uma criança buscando formas de escapar da sua própria realidade.
Logo cedo, passei por questões traumáticas que foram bem marcantes na minha jornada. Uma delas foi a separação conturbada dos meus pais e ter vivido em um ambiente um tanto quanto turbulento.
Na época eu não tinha maturidade para entender o que se passava ao meu redor, então a forma da minha criança enfrentar tudo aquilo era por meio de criação de novos universos e histórias. Então passei a criar e contar histórias. E fiquei realmente boa nisso.
Anos depois, fui entender que essa forma de encarar a minha realidade era chamada de “dissociação”, que é um mecanismo de defesa para ajudar a pessoa a lidar com experiências traumáticas ou esmagadoras, criando uma sensação de distanciamento da realidade.
Rosa Montero cita a frase da psicóloga Lola López Mondéjar em seu livro:
A saída criativa tem sua origem num encontro precoce com o traumático.
E nessa jornada, escrevemos (ou desenhamos, compomos, dirigimos) os nossos próprios fantasmas internos - temas que se repetem constantemente em nossas obras sem que tenhamos consciência disso.
Como criativa(o) excêntrico, quais são os seus fantasmas internos?
No final das contas, percebemos que por trás de todo criativo excêntrico, tem uma história muito mais profunda. As suas criações são só a ponta do icerberg e é por meio delas, que eles encontram a própria cura. E ajudam outros a se curarem também.
Será que todo criativo tem uma certa dose de extravagância?
"Não há grande genialidade sem uma pitada de loucura." - Sêneca
🤿 Para mergulhar mais fundo
Se você ficou curiosa(o) para saber mais sobre o que te atrai e magnetiza (Vênus) e outros aspectos que vão revelar qual é a sua loucura genialidade, está na hora de ter um encontro mais intimista comigo e as estrelas por meio da Sessão AstroDireção, minha metodologia autoral em que decodifico os seus talentos e forças.
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📜 Direto do baú de memórias
Se gostou dessa edição, recomendo ler essas antigas aqui para ir além:
Meu 1º encontro com Fernando Pessoa e a 1ª edição dessa News:
Decifrei o segredo das mentes mais criativas que já passaram pela Terra:
Um papo sobre excêntricos mal compreendidos:
🏹 Para ir além e expandir a consciência
A curadoria mais excêntrica da temporada.
Uma playlis especial para você sentir que entrou na mente do Tim Burton (e foi a que ouvi enquanto escrevi essa edição) - aqui
Um mergulho na grande obra de Fernando Pessoa repleta de simbologia: “O Livro do Desassossego” por Bruna Martiolli (que adoro o trabalho) - aqui
Se você ainda não assistiu o filme mais excêntrico de 2024, só vai: Pobres Criaturas (algumas cenas podem gerar repulsão e outras inspiração) - disponível no Disney Plus
O desenho “Regular Show”: em um parque nada convencional, Mordecai, um pássaro azul, e Rigby, um guaxinim, embarcam em aventuras absurdas e surreais enquanto tentam cumprir tarefas simples. Eu sou obcecada por esse cartoon e sempre que preciso de inspiração criativa, assisto um episódio - disponível na Netflix.
Fica de olho que no dia 06/09 estreia Beetle Juice 2 no Brasil e poderemo matar a saudade do fantasma mais excêntrico da história.
🎁 Agradecimentos Especiais
Um agradecimento do fundo do meu coração as pessoas que contribuíram direta ou indiretamente para essa edição nascer:
Minha criança interior que nunca teve medo de assumir a excentricidade e que tem me visitado regularmente para me lembrar das minhas paixões. Além de agradecer, dedico essa edição para ela.
O criativo excêntrico Kalyl que tive a honra de conhecer pelas sincronicidades da internet e que tem um trabalho incrível e não convencional de Powerful Copywriting (ajuda marcas desse mundo a soaram de outro mundo) pela Words Hurt - escorpiano de corpo e alma, ele também encontra inspirações no macabro e sobrenatural. Aliás, deixou a recomendação excêntrica do desenho animado “Steven Universe” e em especial da personagem Ametista.
A criativa e original Giovanna Almeida, com quem tenho conversas profundas e transformadoras sobre autoconhecimento, viagens e cura que são verdadeiros bálsamos para a minha criança interior. Aliás, ela é mais do que especialista na cura de traumas e da criança interior de uma forma leve e alegre. Já acompanha ela aqui
E por fim, a cada um de vocês leitoras(es) das antigas ou que chegaram por aqui agora e que dedicaram alguns minutos de seus dias para ler as minhas inspirações e deixarem as suas também.
Esse texto ficou maior do que o esperado, então hoje a minha apresentação vai ser diferente:
Eu sou a Cynira Helena, alma mineira com um coração inquieto e mente criativa. Entre cafeterias acolhedoras e viagens pelo mundo, transformo a vida cotidiana em narrativas mágicas. Autora da newsletter Inspirações, estou na jornada de escrever meu primeiro livro, uma auto ficção. Minhas histórias são portais de transformação que nos levam a jornadas de autodescoberta. Nas minhas palavras você encontra não apenas histórias, mas pedaços de si mesma, refletidos no espelho da imaginação.
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Beijos e até a próxima quarta-feira,
Cynira Helena - e toda a minha excentricidade
Essa newsletter foi como um abraço ^^
Sempre gostei de abrçar o lado excêntrico da força, seja nos desenhos, nas minhas leituras e também na minha escrita. O normal é chato, entediante, prefiro me aventurar pelo mundo do bizrro, não à toa, Twin Peaks é uma das minhas séries favoritas, e Saramago, o autor que ocupa o lugar mais alto no meu coração.
Adorei o texto e também estou à espera de Beetlejuice 2 (vai ser maravilhoso).
Adoro excêntricos e esquisitos. Na minha lista de personagens estão a Luna, o Chapeleiro Louco, a Edna de Os Incríveis, Capitão Jack Sparrow, Capitão Gancho do filme Hook e Wonka.