Chegando no fundo do poço
Por que fugir da própria sombra pode estar te sabotando mais do que você imagina
🧙Essa edição é fruto de um sonho cheio de simbolismo que tive no meio do meu puerpério e que vai te inspirar a refletir sobre os quartos escuros que habitamos, as mensagens ocultas dos sonhos e os portais que se abrem quando temos coragem de encarar o que nos habita, mesmo quando a queda parece não ter fim.
Estava deitada em uma daquelas camas antigas, com dosséis de tecido e lençóis dignos de filme de princesa. O ambiente ao meu redor era estranho, como se eu tivesse sido transportada para um lugar fora do tempo.
Sabia que era um quarto por conta dos móveis e adornos, mas eu nunca tinha estado ali antes.
De repente, o chão sob a cama se rompe. Um buraco se abre e, sem aviso, a cama começa a despencar.
Andar após andar, ela atravessa outros quartos, como se eu estivesse dentro de um hotel. A cada novo ambiente que surgia na queda, era outro quarto que eu desconhecia.
Perdi a conta de quantos pisos atravessei.
Lembro apenas da sensação de queda livre e do susto: o corpo em suspensão, o coração na garganta, o ar rarefeito.
Não sei onde — ou se — essa cama aterrissou.
Acordei antes, assustada demais para continuar dormindo.
Levantei ainda no escuro, a casa silenciosa, a madrugada fria. Fui até a cozinha, tomei um copo d’água e sentei para anotar tudo no meu diário, tentando reter cada fragmento antes que o sonho escorresse pelos vãos da memória.
Enquanto escrevia, já ouvia mentalmente a voz da minha analista, lançando aquela pergunta que sempre me atravessa como um raio em cada sessão:
— E o que esse sonho significou pra você?
A Simbologia dos Sonhos
Como antiga aluna dessa escola de autoconhecimento, encontrei na decodificação dos sonhos um amuleto muito poderoso.
Desde os tempos mais remotos, a humanidade se debruça sobre os sonhos em busca de respostas que o estado desperto não oferece. Os antigos egípcios acreditavam que sonhar era se comunicar com os deuses. Na Grécia Antiga, existiam templos dedicados ao sono, onde as pessoas dormiam em busca de curas e revelações.
Milênios depois, Freud chamou os sonhos de “estrada real para o inconsciente” e abriu as portas para uma nova forma de interpretá-los.
Apesar de respeitar muito o pai da psicanálise, confesso que sou mais “team Jung”. Tenho uma admiração imensa por quem ousa trilhar seu próprio caminho.
Enquanto Freud focava nos impulsos reprimidos, Jung mergulhou nos símbolos, nos mitos, no que ele chamou de inconsciente coletivo.
Ele acreditava em sincronicidade, em arquétipos, em mensagens que se repetem em diferentes culturas porque fazem parte da alma humana.
Assim como eu, via sentido nas coincidências. E sabia que, muitas vezes, o que parece "apenas um sonho" é, na verdade, um espelho que revela camadas nossas que ainda não enxergamos com clareza.
Inspirada por essa antiga sabedoria, fui atrás do significado desse sonho da cama em queda. E como acredito que nada é por acaso, tenho certeza de que se você está aqui, lendo essa edição, há uma mensagem do seu inconsciente querendo te mostrar algo também.
Talvez sobre a coragem de se deixar cair pra então se reencontrar em outro andar de si mesma.
Então respira fundo, deixa o medo de lado por um instante e vem comigo nessa descida simbólica.
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Chegando no fundo do poço
Na jornada de decifrar esse sonho cheio de camadas, me lembrei de um conceito da antiga tradição havaiana do Ho’oponopono que aprendi nas minhas andanças pelo universo do autoconhecimento.
Segundo a filosofia, a psique humana é dividida em três partes: Unihipili, Uhane e Aumakua.
Aumakua é o eu superior, nossa centelha divina, fonte de sabedoria e conexão espiritual.
Uhane representa a mente racional, lógica, responsável pelas decisões conscientes.
Unihipili é a parte mais instintiva da alma: o inconsciente, onde vivem nossas memórias, traumas, medos, padrões emocionais e também a nossa criança interior. É o "eu sombra", mas também é o eu mais sensível e mágico, que se comunica por símbolos, sensações e sonhos.
Também me deparei com esse conceito no livro A Bruxa Psíquica, de Mat Auryn, quando ele fala das múltiplas camadas do ser e como precisamos aprender a transitar entre elas para acessar todo o nosso poder intuitivo. Ele chama essa divisão de “as três almas”.
Essas partes do inconsciente — o Unihipili, ou o que Mat Auryn chama de Lower Self — vivem nas sombras, nos quartos escuros da alma e só ganham atenção quando algo simbólico, como uma cama despencando, abre um portal para elas.
E você, tem escutado os sussurros da sua alma mais profunda?
Será que existe algo aí dentro, escondido sob camadas, esperando ser visto?
Curiosamente, o sonho da cama despencando me fez lembrar daquele filme bizarro O Poço, que figurou por semanas na lista dos mais assistidos da Netflix.
No longa, os personagens acordam confinados em diferentes andares de uma espécie de prisão vertical. No centro, uma plataforma desce carregada de comida, mas só os que estão nos andares superiores conseguem se alimentar. Quem está nos níveis mais baixos recebe apenas as sobras, quando ainda existem. O andar em que cada pessoa acorda muda aleatoriamente a cada mês e isso muda também sua percepção de si, dos outros, da vida.
É um retrato cru e simbólico da sociedade: de como distribuímos recursos, empatia, privilégios e de como a descida pode revelar o pior (ou o mais humano) em nós.
No meu sonho, não havia comida, mas havia camadas. E a cada quarto que minha cama atravessava, era como se eu mesma estivesse acessando níveis mais profundos da minha psique.
Porque às vezes, é só quando encaramos as nossas sombras nos andares mais baixos da nossa mente que a gente ouve com nitidez o que precisa ser transformado.
Chegar ao fundo do poço nem sempre é o fim. Às vezes, é onde começa a escuta mais honesta com quem somos de verdade.
O buraco é mais embaixo
Percebo que falar sobre sombra ainda causa desconforto.
Não só pela natureza do tema em si, mas porque essas palavras “sombra”, “eu inferior”, “instinto”, “lado oculto” carregam consigo séculos de repressão e julgamentos enraizados. Na maioria das tradições religiosas e sistemas morais, tudo que escapa da lógica da luz foi associado ao erro, ao desvio, ao pecado.
Crescemos dentro de uma cultura maniqueísta, em que o bem e o mal precisam estar claramente separados, como se fôssemos seres divididos entre dois lados que não podem coexistir.
Mas a realidade é bem mais complexa.
Tudo tem luz e sombra, inclusive aquilo que chamamos de virtude. E quando insistimos em negar nossa escuridão fingindo que ela não existe, ou jogando para debaixo do tapete, começamos, aos poucos, a ruir por dentro.
Porque a sombra não some, ela se esconde. E quanto mais ignorada, mais força ganha.
Lembro de um conceito que me atravessou profundamente no livro O Lado Sombrio dos Buscadores da Luz, da Debbie Ford, que me ensinou que nem toda sombra precisa ser vista como um defeito ou como algo que precisa ser anulado. Muitas vezes, nossas sombras são apenas aspectos mal calibrados da nossa personalidade: dons e potências que, por algum motivo, estão com o “volume” alto demais.
Exemplo: uma pessoa que carrega um senso de controle muito forte pode ser vista como difícil, dominadora, inflexível. Mas o que acontece com alguém que vive completamente entregue ao caos, sem direção, sem estrutura? O problema nunca é o controle em si e sim o desequilíbrio. A sombra não está no conteúdo, mas no excesso, na distorção.
Tenho Vênus na casa 8 do meu Mapa Astral e quem entende minimamente de astrologia sabe que esse posicionamento fala de uma atração visceral pelos mistérios da alma, pelas transformações invisíveis, pela beleza que existe no que é velado.
Talvez por isso esses temas sempre tenham me chamado. Desde muito nova, senti um fascínio difícil de explicar por aquilo que a maioria das pessoas evitava: os vazios, os porões, as perguntas sem resposta, os incômodos.
Sempre tive essa tendência de me aprofundar e buscar as camadas. De querer ir além do que é dito. E, ao mesmo tempo, sempre achei difícil encontrar materiais que me ajudassem a compreender a própria sombra, sem cair em fórmulas prontas, clichês espiritualizados ou jornadas muito densas.
Eu tinha 11 anos quando li Brida, de Paulo Coelho, e me deparei pela primeira vez com o conceito da “noite escura da alma”. Aquela frase ficou ressoando dentro de mim por dias, meses, talvez anos.
Fechei o livro e, ainda jovem, me perguntei em silêncio: qual será a minha noite escura?
Desde então, essa pergunta nunca me abandonou. Ela foi me acompanhando como um fio invisível por mais de duas décadas, abrindo portais, provocando crises, me empurrando para dentro.
E, ao longo desse caminho, fui percebendo que essa é uma jornada que muitas pessoas evitam: não por falta de vontade, mas por medo, por falta de mapas ou por nunca terem aprendido a se olhar com profundidade.
Não é fácil encarar as nossas sombras, mas quando conseguimos atravessar esse portal com honestidade, algo muito precioso começa a acontecer: ganhamos clareza sobre nossos padrões, nos libertamos de repetições inconscientes e nos apoderamos da nossa história com inteireza.
Foi numa dessas travessias, durante uma viagem para o norte da Itália, num lugar conhecido como a “cidade das duas almas” que tive um encontro profundo com a minha própria sombra.
E foi ali, nesse local tão intenso e simbólico, que a ideia do meu livro nasceu.
Quis escrever uma história que pudesse traduzir esse mergulho, mas não de forma didática ou teórica, então escolhi a ficção como caminho porque acredito que as histórias nos tocam em lugares onde a lógica não alcança.
E assim nasceu uma narrativa que mistura símbolos, arquétipos, tarot, astrologia, segredos de família e portais entre mundos. Uma trama que é, na verdade, um convite para quem sente que chegou a hora de encarar as próprias sombras e que talvez precise de companhia nessa descida.
Porque mesmo quando o buraco parece escuro demais, é lá embaixo que a gente começa a se ver de verdade.
🚪 Da porta pra dentro
Enquanto escrevo essa newsletter, estou vivendo outro tipo de mergulho profundo: o puerpério.
Minha baby Ceci está com exatamente 35 dias de vida.
E se existe um portal que nos transforma de dentro pra fora, esse é um deles.
A maternidade nos atravessa como uma iniciação, nos vira pelo avesso, nos faz encarar partes de nós que estavam esquecidas e outras que nem sabíamos que existiam. É sombra, é luz, é presença radical, é desconstrução.
Em breve, vou compartilhar uma edição especial da newsletter só pra contar mais sobre essa jornada como mãe, com tudo o que ela tem me ensinado sobre tempo, corpo, vínculo e reconstrução.
Mas hoje, queria apenas deixar registrada essa travessia que pulsa em paralelo à outra que também me habita: a da escrita.
Depois de meses de mergulho profundo, estou na reta final de refinamento do meu livro.
A previsão de lançamento é na temporada de Escorpião — signo que não teme o fundo do poço, mas mergulha nele com coragem.
Se você quer acompanhar os bastidores dessa jornada do livro, da escrita, da maternidade e de tudo que acontece da porta pra dentro , me segue lá no Instagram e continua de olho por aqui nas próximas edições da Inspirações pois ainda tem muita história pra ser contada.
Já confira esse post especial em que contei alguns segredos do livro (é só clicar na imagem abaixo):
🎁 Presente Simbólico
Como forma de agradecer por ter chegado até aqui comigo nesse mergulho, quero te deixar um presente simbólico.
Ele é fruto desses mais de 20 anos de busca, escuta e travessias internas.
Esse presente é um gesto de partilha, como quem entrega uma lanterna acesa antes de você entrar em uma floresta.
Porque eu sei que encarar a sombra não é simples.
Mas também sei que, quando começamos, algo dentro da gente muda pra sempre.
Espero que esse pequeno ritual possa abrir caminhos aí dentro.
✨ Três Chaves
Um mini-ritual de autoconhecimento criado para te acompanhar nos primeiros passos da jornada rumo as suas próprias camadas profundas.
Essas 3 perguntas não são para responder com pressa, mas sim com presença e escuta.Escolha um horário em que você possa estar só.
Acenda uma vela (ou incenso) e se quiser, coloque uma música suave.
Pegue um caderno especial ou uma folha: o importante é que seja feito à mão.
Se quiser, tenha por perto um copo de água (símbolo de purificação e fluidez) ou uma pedra escura (como ônix, obsidiana ou hematita), para te ancorar.
Leia cada pergunta em voz alta e respire fundo antes de escrever.
Não julgue suas respostas. Apenas deixe vir.
O que em mim eu tenho dificuldade de aceitar, mas que continua pedindo para ser visto?
(Pista: pode ser uma emoção, um comportamento, uma lembrança ou até uma versão sua do passado.)Quais momentos da minha vida me fizeram sentir vergonha de ser quem eu sou? O que essa vergonha ainda tenta esconder?
(Para ir além: o que existe por baixo da vergonha?)Se a minha sombra pudesse escrever uma carta para mim hoje, o que ela diria?
(Para ir além: escreva a resposta como se você fosse essa parte esquecida. Dê voz a ela.)Quando terminar, feche os olhos por um minuto e agradeça a si mesma por ter tido coragem de olhar.
A sua jornada começa agora!
Esse ritual foi criado para quem está pronta para acender uma luz nos cantos mais escondidos da alma.
E se ele te tocou de alguma forma, vou adorar saber.
Me conta nos comentários ou me manda uma mensagem no Instagram.
E se depois de tudo isso, se você ficou curiosa sobre o livro que estou escrevendo, quero te fazer um convite especial.
Escrevi o prefácio como quem deixa pistas espalhadas no chão de um templo antigo.
Você pode ler aqui:
👉 Entre sonhos e profecias — leia o prefácio do meu livro
Beijos e até a próxima edição,
Cynira Helena - agora na versão cool mommy escritora (e com algumas olheiras de puérpera)