Memórias póstumas de Rita Lee

A conversa post mortem que tive com a diva estelar e que você precisa ouvir também

Olá Viajante!

Como você está?

Antes da sua leitura, tenho uma confissão a fazer: estou rascunhando esse texto já tem mais de meses e por alguma razão (leia-se “ser emocionada por esse tema”) não conseguia desenvolvê-lo.

Quem é minha aluna ou já me acompanha faz um tempo sabe que sou uma fã declarada da diva estelar Rita Lee, a ponto de citá-la em minhas aulas e conteúdos e buscar inspirações no seu legado para o meu processo criativo e estratégico.

Então é de se esperar que no dia que ela foi do plano terreno para o espiritual, senti um impacto tão grande a ponto de não conseguir sequer falar sobre isso e mais uma vez tive um bloqueio grave na escrita desse texto.

Mas assim como a Rita, coisas inusitadas e cheias de sincronicidades acontecem para sacudir a nossa vida e nos reinventar.

Então para mergulhar fundo no nosso ritual semanal, já dá o play na música tema do dia e sacode a cadeira com a música que é hino das mulheres inquietas e inconformadas:

O amor nos torna patéticos

Tenho o hábito de ouvir podcasts de temas que me interessam enquanto faço esteira ou meu treino de musculação na academia. É uma espécie de motivação mental que traz mais prazer para uma atividade que não é tão natural assim para mim.

Então nessa quarta-feira fui para a academia, coloquei meu fone e dei o play no episódio “Cor-de-Rosa Choque”, um tributo em áudio cheio de conversas sobre essa icônica mulher que revolucionou o Brasil.

Eis que enquanto escutava as confissões sobre como Rita impactou a jornada de cada um dos locutores, me desabo a chorar no meio de uma série de leg press.

Quem passava do meu lado não entendia nada e me achava patética, mas como a própria Rita diz, o amor tem essa capacidade de nos tornar patéticos.

Patético: O que comove, o que fala ao coração.

Se patético é tudo aquilo que fala ao coração, a Rita definitivamente tem a capacidade de me tornar assim.

E essa comoção se deve ao fato de que parece que ela fala diretamente com a Cynira de 10 anos de idade, que logo se identificou com a “ovelha negra” e se sentiu acolhida por aquela cantora tão única e que entendia os meus questionamentos precoces de uma “incompreendida”.

Eu não vou contar a história dela aqui pois isso seria convencional demais para uma verdadeira mutante, então vou compartilhar com vocês algo bem profundo e pessoal: a última conversa póstuma que tive com Ritinha.

A conversa post mortem que tive com Rita e que você precisa ouvir também

Essa conversa póstuma também aconteceu de um jeito irreverente e foi a verdadeira responsável por desbloquear a minha criatividade para falar do tema.

Eis que ontem estava fazendo o almoço e para trazer mais prazer nesse momento que também não é natural para mim, dei o play na playlist especial com as melhores músicas da Rita e enquanto entoava “você é a ovelha negra da família
Agora é hora de você assumir” senti uma vontade incontrolável de conversar com Ritinha e abrir o meu coração sobre o bem que ela tinha feito a humanidade.

E essa declaração de gratidão aconteceu mais ou menos assim:

Oi Rita! Não vou pensar que você vai me achar uma doida de tentar falar assim com você pois foi exatamente a sua loucura e irreverência que fez você ser essa pessoa tão autêntica e cativante. Então vou seguir a minha intuição e confiar na minha loucura que insiste para eu continuar esse papo.

Imagino que já deve ter ouvido isso de muita gente, mas você realmente não tem noção do impacto que teve na minha vida e em cada decisão que tomo para os meus negócios.

Te “conheci” logo cedo, com os meus 10 anos de idade e vontade latente de desbravar o mundo pelo meu olhar criativo. Confesso que foi amor a primeira vista, ou melhor, a primeira nota. Naquele instante que ouvi você falar sobre a tal da “ovelha negra” me senti compreendida. Vou te contextualizar: diferente de você, não sou originalmente uma “mina de sampa”- pelo contrário. Cresci em uma cidade do interior de Minas Gerais e que por mais que tivesse inúmeras razões para ser apaixonante, tinha uma em questão que era a pedra do meu sapato: parecia que eu estava a frente do tempo e que tinha vislumbres de um futuro que ainda ia demorar para chegar ali.

Você sabe bem que quando pensamos fora do tempo, muitas vezes somos incompreendidas e taxadas de loucas. Já fui muito julgada por pessoas que não entendiam toda a minha excentricidade. Mas você não! Em cada nova música do seu repertório que eu conhecia, mais me sentia compreendida e parte desse clã de mutantes que por alguma razão vieram parar aqui na Terra.

Sabe Ritinha, a gente está vivendo um era muito BORING! As minas de sampa já não são mais como antes -e nem de lugar nenhum do Brasil. A maioria delas entrou naquelas tão “temidas caixas” que fazem mais do mesmo.

As tais das perspectivas única de mundo foram diluídas em um mar de gente igual, com opiniões iguais, roupas iguais e feeds iguais. E engolidas no estilo cowboy: sem gelo.

Parafraseando Amélie Poulin: “São tempos difíceis para as sonhadoras - e ousadas, inquietas, inconformadas e autênticas”.

Parece que tem cada vez menos espaço para mulheres como nós: originais, irreverentes, que têm pensamento crítico, corajosas para dizer o que o mundo precisa ouvir, interessantes e muito além de uma bunda ou peito siliconados.

Eu vou te confessar uma coisa: já me questionei em alguns momentos e pensei em desistir. Já cheguei até a tentar entrar em algumas caixas que não me couberam nem 5 minutos.

Rita, em um mundo onde não me identifico com esse monte de marionetes iguais, você é o meu bálsamo e minha grande fonte de inspiração.

Eu não desisto em honra ao seu legado e todas as vezes que me inspirou ao longo da minha jornada a me apropriar da minha autenticidade.

Uma vez você disse: “Eu nunca quis ser apenas uma cantora. Eu queria ser alguém que levantasse bandeiras, alguém que provocasse, alguém que dissesse coisas que as pessoas precisavam ouvir."

E posso te garantir que você foi, é e vai continuar a ser exatamente essa pessoa. Tenho certeza que apesar do mundo estar em um momento caótico, todas as mulheres inconformadas e que questionam o status quo buscarão forças e inspiração na sua história.

Você não imagina tudo que já construí por conta das portas que você abriu para nós. Acredita que sou a pioneira na união do Branding com a Astrologia no Brasil e levei os assuntos estelares para mesas de negócios em todo o país e mundo?

E diversas vezes ouvi que estava louca, que minhas ideias eram diferentes demais e até mesmo que eu era criativa demais (em um tom pejorativo).

Foi você uma das responsáveis por eu ter coragem de sair de um emprego “estável” no mercado financeiro onde era vista só como mais um número e minha mente subversiva era incompreendida.

E também foi você que me inspirou a me apropriar do meu lado “ovelha colorida” e não ter medo de me expressar de forma autêntica.

Como forma de retribuição pelo tanto que você me deu, eu aceito ser parte do Clã das Mutantes e disseminar a sua história e ensinamentos por onde quer eu eu vá. Assumo a missão de inspirar outras mulheres a assumirem o seu protagonismo e se apropriarem de quem elas são de verdade- inclusive das suas sombras.

Prometo que honrarei os valores dos 7 I’s: irreverência, inconformismo, inquietude, inspiração, inovação, intimidade e inteligência.

E não terei medo de expressar a minha opinião, questionar e incentivar outras mulheres a desenvolverem o pensamento crítico.

Ah, também quero te contar que compartilhamos de uma paixão nada secreta pelo James Dean - que era um aquariano da mais alta estirpe. Aliás, como boa astróloga, eu mergulhei fundo no seu mapa astral em busca do seu ingrediente secreto e descobri coisas incríveis e que explicam grande parte da sua história.

Mas isso é papo para uma outra conversa - quem sabe no além?

Também amei descobrir na sua outra biografia que é uma colecionadora nata - inclusive de cristais e pedras brasileiras. Confesso que me lembrou demais a minha saudosa avó Leninha - que aliás falei ontem mesmo para minha irmã o quanto vocês estão parecidas nessa foto de capa do seu livro. Ela era uma verdadeira mutante e tenho certeza que será uma ótima companhia aí para você no astral. Quando encontrar com ela, fala que sinto a falta dela como se me faltasse um dente da frente, mas que continua a percorrer o caminho que ela abriu para nossa geração.

Enfim, tenho assunto para falar com você por horas, mas imagino que tem mais o que fazer por aí. Deve ter tanta gente incrível que você quer rever: a Hebe, Elis Regina, Dercy, Tim Maia, John Lennon, Hendix e por aí vai.

E pra finalizar, quero dizer mais uma vez: muito obrigada! Por ter aberto tantas portas, por ter me ajudado a enxergar que a minha excentricidade é o meu ingrediente secreto, por ter desafiado o status quo e nos feito questionar, por ter acreditado nos seus sonhos mais loucos e me feito acreditar nos meus também e por ser essa lenda do nosso Brasil.

Sempre ficava deslumbrada com as cartas provocativas e cheias de personalidade que Clarice escrevia para as personalidades da época com sua visão sobre determinado assunto ou até mesmo críticas, então vou ser ousada para escrever essa conversa que tivemos nesse dia de junho e publicá-la na minha Newsletter para que a minha admiração e gratidão por você sejam eternizadas.

Quem sabe ela não traz mais mulheres para o nosso time de mutantes.

Que você continue a brilhar a sua estrela nesse cosmo. Confesso que ainda não tinha imaginado um mundo sem você, mas também acredito que você deixou um legado tão forte que vai continuar a nos inspirar mesmo aí das estrelas ;)

Rita, você é infinita!

Mais um recado para as mulheres mutantes

Se você leu até aqui, tenho certeza que é uma mutante de carteirinha e talvez ainda não tenha se assumido assim, então vou deixar mais um recado para você das palavras da própria Rainha Mutante Rita Lee:

"Mulheres têm que parar de esperar as coisas acontecerem. Se você tem algo a dizer, diga. Se tem algo a fazer, faça. Se tem um sonho, vá atrás dele."

"Acredite na sua voz interior e tenha coragem de expressar o que você acredita, mesmo que seja diferente do que os outros esperam. Suas palavras e sua arte têm o poder de transformar o mundo."

Um sinal do além que desbloqueou tudo

Toda essa conversa que relatei aí cima aconteceu de verdade, enquanto esperava o meu arroz ficar pronto.

Mas eu tenho uma Lua em Virgem e preciso de algumas provas concretas para acreditar em algumas coisas intangíveis - estilo São Longuinho né - então desafiei a força cósmica e no final da conversa eu falei:

Rita, para eu não achar que enlouqueci de vez e que você realmente ouviu o que te falei durante esses minutos, me manda um sinal. Qualquer que seja, mas que me faça acreditar que não falei sozinha. Seu Sol em Capricórnio vai me entender ;)

E você não vai acreditar no que aconteceu no segundo seguinte: o meu interfone tocou e o porteiro me avisou que tinha acabado de chegar uma encomenda para mim. Desci para buscar e quando abro o pacote uma confirmação que me fez sorrir de orelha a orelha: a edição do novo livro “Auto Biografia”, da própria Rita Lee e o mesmo que a foto dela na capa me lembra demais da minha avó Leninha.

“Rita, nunca mais vou questionar a força desse cosmo” - digo eu abraçada com o meu livro e doida para mergulhar nesse novo universo da estrela.

Em um mundo cheio de Barbies cor-de-rosa, Rita provocou o mundo e reinventou o conceito da tal cor-de-rosa choque.

Por um mundo com mais ritas, leninhas, elanas, celinas, marlenes, hebes, dercys, angelas, ophras, nathalias, manus, ágathas, carmens, djamilas, clarices e por que não cyniras.

"Porque nem toda feiticeira é corcunda. Nem toda brasileira é bunda"

Beijos saudosos,

Cynira Helena - e as minhas versões mais excêntricas

PS - acha que o livro chegar na hora que pedi um sinal do universo não foi o suficiente? Então escuta essa: menos de uma hora depois, recebi da minha tia o convite do seu aniversário de 53 anos e o tema da festa é nada menos do que “Tributo a Rita Lee”. Com direito a fantasia temática e tudo mais. Só sei que definitivamente não duvido mais do poder cósmico.