🧙Essa edição foi escrita de forma intensa e visceral logo após ter participado da Oficina “Tecer a palavra: entre a literatura e a psicanálise” e a minha alma de artista ter entrado em contato mais íntimo com o inconsciente. Se você também encontra na escrita um lugar seguro para transbordar o seu ser, tenho certeza que esse texto vai tocar a sua alma.
Por que você escreve?
Essa pergunta me arrebatou logo no início da oficina.
Apesar de ter me encantado pela a escrita logo que aprendi a rascunhar as minhas primeiras letras, nunca tinha pensado conscientemente na razão de nutrir essa prática.
Então agora, enquanto escrevo esse texto, faço uma visita ao meu passado em busca dessa resposta. E convido você para se aventurar comigo nessa viagem. Quem sabe também não descobre o seu porquê.
Se não me falha a memória, era meados de 1998. Ainda morávamos no Edifício Mediterrâneo, onde compartilhava a televisão com a minha irmã no nosso quarto de estudos. Um belo dia, fui surprendida pelo filme da sessão da tarde que me iniciou no universo das criaturas mágicas e seres elementais.
Até hoje não me lembro do nome. Mas lembro que era um filme sobre duendes e se passava em um lugar que parecia ser a Irlanda. Dois irmãos descobriram um reino de duendes que ficava em um bosque próximo de suas casas e então se tornaram amigos dessas criaturas.
Mas ao longo da história, surgiu uma vilã que tinha uma aparência sombria e queria destruir o reino dos duendes. No filme esses irmãos tentam ajudar os seus novos amigos mágicos.
Também não me lembrou de como a história termina e isso não é relevante agora. O que importa é que meu coração foi atravessado por esse filme a ponto de eu sentir uma emoção tão forte que não consegui expressar com meu singelo vocabulário de uma criança de 8 anos.
E na falta de palavras adequadas para expressar o que sentia, fui tomada por uma ânsia de registrar a minha nova descoberta e paixão por esses seres pequeninos.
Escrevi na parede do quarto de estudos com um lápis de colorir: “Eu acredito em duentes”.
Hoje imagino que essa era a forma de eu declarar para meus recém descobertos amigos o quanto eu acreditava neles e estava pronta para dar novos passos nessa relação.
Só que esse ato impulsivo de auto expressão não passaria despercebido. Fui pega no flagra e com o lápis de cor ainda em mãos denunciando o meu crime.
Mas o universo mágico sabe o que faz pois quem me deu esse flagrante foi a minha querida e saudosa babá Ana, que tinha uma forma única de lidar comigo.
- Cynirinha, você não pode escrever na parede. Você tem que escrever as suas coisas em um diário.
Ela não imaginava o quanto aquelas palavras mudariam o rumo da minha vida, pois foi naquele instante que me deparei com o universo apaixonante dos diários, cadernos e itens de papelaria que seriam meus grandes aliados na escrita.
E foi ainda mais especial pois quem me deu o meu primeiro diário e me iniciou nessa universo da escrita é ninguém menos do que a minha amada avó Leninha, a minha grande inspiração de vida.
E você, como foi o seu primeiro contato com a escrita?
A jornada de auto descoberta na escrita
Desde aquele dia, os meus diários se tornaram grandes amigos.
Eles eram os meus confidentes, cúmplices nos meus planos impossíveis, guardiões dos meus sonhos e devaneios, laboratórios de ideias e experimentações, curadores das minhas paixões e curiosidades.
Não saía de casa sem levar um diário e um lápis. E ao longo da minha vida, fui compondo uma ilustre coleção deles - que conservo grande parte até hoje.
Tambem criei alguns rituais ao longo dos anos, como toda vez que chego em um lugar novo em uma viagem, a primeira coisa que faço é comprar um diário (pode ser no formato de caderno ou bloco de notas). E tem que ser comprado no local, do contrário não funciona. Manias excêntricas de uma declarada amante das palavras e da escrita.
Hoje durante a oficina, ouvi uma frase de uma participante que me atingiu em cheio:
- “As palavras não me julgam”.
Naquele instante compreendi a conexão instantânea que minha eu de 8 anos de idade teve com as palavras. Elas não me julgavam. Pelo contrário! Elas me permitiam ser tudo aquilo que a minha mente criativa imaginava.
Também teve outra fala que me tocou:
-"Escrevo porque preciso transbordar. (…) se não escrevo, sufoco”.
A escrita tem esse poder de nos fazer ir além. De dar vazão aquilo que nos consome por dentro. De abrir as comportas das nossas m(águas). De externar aquilo que nos inquieta. Ou de simplesmente compartilhar com o mundo aquilo que nos fascina.
Como já dizia Conceição Evaristo: “é na escrita que eu posso ser”.
A minha relação com a escrita
Como exercício criativo, a Mariana Rosa que conduziu a oficina nos convidou a escrever sobre o porquê escrevemos e pensar sobre a nossa relação com a escrita.
Por meio de uma figura surrealista, fomos instigadas a buscar inspiração no inconsciente. E de lá, nasceram as minhas palavras:
Escrevo não só para me encontrar.
Mas também para me perder: nos meus pensamentos, devaneios e sonhos.
A escrita é parte indissociável do meu ser. Onde, desde que dominei os primeiros passos dessa arte, encontrei refúgio.
Com a escrita eu posso viver as minhas múltiplas facetas. Ser uma experimentadora da vida. Sair da concha e tatear o desconhecido.
Cavar buracos na areia do universo para encontrar tesouros secretos.
Tesouros esses que foram escondidos pela humanidade e se perderam na poeira do tempo.
Escrever é um ato antagônico: ao mesmo tempo que me refugio no paraíso das criações, também me aventuro em sair da minha concha. Nem que seja por um breve instante.
Escrever é viver a ambiguidade de ser a criatura e a criadora, de forma não-linear e deliciosamente libertadora.
Ao escrever essas palavras, senti como se elas fluíssem pelas minhas veias. Como se fossem partes de mim que tinham que ser gravadas no papel.
Uma sensação libertadora de leveza na alma tomou conta do meu ser.
E ao ler o meu texto para o grupo, parece que ele ganhou um significado ainda mais profundo, pois tocou no coração de cada ouvinte de uma forma singular.
Assim como tocou no meu.
A escrita é curativa: pra quem escreve e para quem lê.
E você, por que escreve? Eu te convido a fazer essa reflexão e compartilhar comigo se sentir vontade. Vou adorar saber!
Escrevo para mim, mas o que escrevo é para todos - Annie Ernaux
🏹Para ir além e expandir a consciência
Como fã assumida das sinconicidades, não poderia deixar de citar algumas das referências apresentadas na aula e que sincronicamente estão no meu campo de atenção nesse momento da vida:
Livro “O Perigo de Estar Lúcida, de Rosa Montero” - esse tem me atravessado o peito e me virado do avesso tamanha a identificação com a minha alma criativa e peculiar. Por meio de histórias reais e ficcionais, a autora nos faz questionar tudo o que pensávamos sobre gênios, loucura e o processo criativo.
Série “Freud”, disponível na Netflix: esta série reimagina a vida de Freud como um jovem detetive investigando uma série de assassinatos misteriosos em Viena. A trama mistura elementos da psicanálise com suspense e drama, explorando os temas da repressão, do trauma e da sexualidade.
Comunidade Psicanalítica - link aqui - a oficina que participei faz parte do projeto da Comunidade Psicanalítica, que é dedicado a transmissão em psicanálise e co-criador pela
e a Mariana Camata -instagram aquiNewsletter (entre nós) da que conduziu a oficina “Tecer a palavra: entre a literatura e a psicanálise” de uma forma muito especial.
Além disso, quero deixar um agradecimento especial para todas que também participaram dessa oficina, me acolheram e compartilharam tesouros profundos. Obrigada por me ajudarem a relembrar do quanto esses temas me encantam.
🫀Sobre a autora dessa Newsletter
Olá, eu sou a Cynira Helena.
Escritora, astróloga, ativadora de paixões e estrategista de marcas originais.
Sou adepta da “escrita visceral”, sagitariana, amante dos bons livros, entusiasta da arte e apreciadora de ouvir novos idiomas enquanto tomo uma boa xícara de café coado e viajo por aí.
Se de alguma forma o que escrevi ressou com você, não esquece de deixar um comentário ou responder por e-mail (se prefere uma conversa mais próxima) me contando tá?
Seja bem vindo(a) ao meu Universo particular.
E se ainda não está inscrita no Clã pra receber semanalmente novas edições da Newsletter Inspirações, clica no botão abaixo e junte-se a nós:
Um abraço e até a próxima semana!
Cynira Helena - a amiga dos duentes
PS - Se você sabe o nome do filme do duende que contei nessa edição, por favor me conta. Se não sabe o nome mas também lembra da história, me conta também para eu não achar que foi um delírio da minha mente imaginativa.
Cynira, que lindo te ler falando sobre essa relação tão íntima com a escrita, a minha também começou a partir de diários. Foi realmente lindo a construção que tivemos na oficina! <3
Pronta pra extravasar o que tem dentro de mim respondendo a essa pergunta. Que especial! Obrigada por compartilhar, Cynira.