Olá Viajante!
Antes de embarcar comigo na inspiração da semana, já dá o play na música tema do dia:
Eu não sei quando foi que começou essa “trend” de que ter a agenda cheia era sinônimo de sucesso. Só sei que, assim como 90% dos nascidos na geração millenium, fui uma das vítimas.
E se você está lendo esse texto, tem uma grande chance de ser também.
Independente do momento em que começou, a minha sensação é que por muito tempo essa “falta de tempo” era a máscara perfeita para não olhar para as minhas tantas imperfeições.
Quanta coisa uma falta não esconde,
Quantos vazios são preenchidos com coisas que nem sequer fazem sentido para nós, só pelo medo de encarar essas sombras e faltas.
Mas hoje, enquanto fazia o passeio diário com minha cachorrinha Jenny (ou JJ), eu encarei uma dessas faltas. Ou melhor, ela me encarou profundamente.
Quando a agenda vira muleta
Durante o passeio, ouvi o episódio “#88 Essa correria toda é fuga né?” do podcast “Descobri depois de adulto” (btw, que nome maravilhoso) conduzido pela Andrea Chociay em que ela desvenda o que realmente existe por trás de pessoas super ocupadas.
Preciso confessar que esse episódio me revirou de um jeito que não estava esperando. Um passeio inocente com a Jenny se transformou em uma (auto) sessão de terapia. E horas depois, aqui estou eu na cafeteria, que se tornou o meu lugar oficial para escrever enquanto experimento novos cafés, filosofando sobre as palavras que tanto me impactaram.
Fui levada lá para 2017, no auge da minha carreira no mercado financeiro no coração de São Paulo - que convenhamos estava quase sofrendo uma parada cardíaca tamanha era a intensidade do trabalho e pouco afeto para nutrir.
Foi nessa época que descobri o “poder” de encher a boca e falar “nossa, tá corrido” ou “tô sem tempo” para responder qualquer pergunta ou convite que eram feitos pra mim.
Minha agenda era tomada de reuniões intermináveis em que 70% poderiam ser resolvidas com um e-mail ou telefonema. E o resto do tempo com outras infinitas coisas que eu inventava de fazer. Todas relacionadas a trabalho, claro. Afinal não existia almoço grátis. E eu tinha me mudado do interior de Minas para SP para virar “gente grande”.
Eu não sei você, mas comecei a entrar em uma pilha tão intensa que me sentia mal de ter “tempo livre” na minha agenda. No menor sinal de ócio (que eram raros), já enfiava coisas para “preencher”.
O resultado disso foi amargo: episódios seguidos de burnout, uma crise de ansiedade que ainda dá as caras esporadicamente e alguns dias a menos de vida - sim, é real.
Por mais que o trabalho no mercado financeiro ou a vida na correria de Sampa já não sejam mais a minha realidade desde meados de 2019, descobri que o problema não é nem de longe o lugar onde moramos ou o trabalho que realizamos.
Ele é muito mais profundo e mora em um dos lugares mais difíceis de acessarmos: dentro de nós, nas profundezas das nossas raízes, em uma região sombria da nossa essência.
E tem muito a ver com as nossas faltas e medos.
Você tem medo do que?
No primeiro momento, temos o ímpeto de responder essa pergunta de uma forma automática ou superficial.
Porém, quanto mais mergulhei na jornada do autoconhecimento, mais clara ela ficou para mim. Mas não se engane pequeno gafanhoto: para encontrar a luz é preciso mergulhar na escuridão que você tanto foge. E ela dá medo.
Não foi à toa que ilustrei essa edição com o gif da Rory Gilmore pois ela simboliza bem muitos dos meus medos e faltas. Se você não conhece nada de Gilmore Girls, leia essa edição aqui para clarear e depois volte nesse texto.
Assim como a querida Rory, eu fui criada para ser uma garota acima da média - no intelecto principalmente. Toda a minha vida já tinha sido traçada pelas expectativas dos meus pais/familiares e claro que nesse plano não tinha espaço para erros e dúvidas.
O peso ainda é maior quando você é herdeira direta de verdadeiros gênios, que elevaram a régua da inteligência lá no topo. E um pai que tinha como mantra de vida: “o mundo não tem espaço para os medíocres” e fazia questão de proclamar isso diariamente.
Dito tudo isso, vou te confessar um grande segredo: eu morria de medo de ser burra. Pior: eu morria de medo de ser medíocre. De ser normal.
Na minha cabeça, para ser amada e reconhecida, eu precisava ser tão (ou mais) inteligente quanto foram os meus descendentes.
Estou falando aí do histórico dos meus ancestrais entre os quais fizeram parte da Academia Brasileira de Letras, falavam muitos idiomas fluentemente, ocuparam cargos e cadeiras em lugares de renome, foram nomes influentes na história do Brasil, conheciam profundamente sobre artes/política/história/geografia, devoravam livros de café da manhã e não tinham espaço a despensa para a ignorância.
Então a forma que encontrei para ser vista, era me destacar intelectualmente. Por isso enchia todos os espaços da minha agenda com atividades relacionadas aos estudos, aprendizado de idiomas, leituras e tudo que envolvesse o desenvolvimento do meu cérebro.
Na minha cabeça, eu poderia ser qualquer coisa, menos burra.
Eu não sei pelo que você passou na sua infância, mas os medos que têm hoje escondem feridas tão profundas que nem sempre conseguimos olhar. E essas feridas originam das faltas - ou excessos - que se mascaram em comportamentos que repetem padrões ou buscam preencher aquele vazio.
Depois de muito tempo, entendi que só enfrentaria esses medos se dedicasse tempo “estudando” uma coisa que deixei de lado por tanto tempo: eu mesma.
E esse foi o início de uma longa jornada de autoconhecimento - que leva uma vida toda, mas pode ser mais leve se trilharmos de forma alinhada a nossa essência.
Depois de ouvir o podcast, tive a confrimação de que minha agenda sempre cheia de compromissos intelectuais escondia a falta de coragem de olhar para a minha própria essência e desejos.
Para a minha verdadeira identidade.
E aí, como preencher o vazio?
A resposta para essa pergunta pode ser um tanto quanto inesperada: para preencher o seu vazio, você precisa em primeiro lugar parar de fugir dele.
Abrir espaço para ele. E saber que nem sempre o vazio precisa ser preenchido. Ele só precisa existir.
Assim como tudo o que é criado no Universo, nós também precisamos dessa dualidade: o cheio e o vazio, dia e noite, yin e yang - e infinitas outras polaridades, que no final das contas são só extremos da mesma coisa.
Então os espaços vazios na sua agenda também são fundamentais para as suas criações. Esse movimento ganhou o nome de “ócio criativo” - cunhado pelo italiano Domenico De Masi.
O quanto você abre espaço para o vazio na sua rotina?
Nós mulheres vivenciamos esse “vazio” mensalmente, por meio do nosso próprio ciclo menstrual - a famosa fase da anciã.
Nesse momento, o nosso corpo pede um tempo de interiorização e de vazio. E quando não respeitamos essa necessidade natural, vamos colher os amargos frutos no meio da jornada.
Ter essa compreensão e aplicá-la na minha vida mudou completamente a minha relação com a rotina e principalmente com o meu trabalho.
Eu entendi que estava tudo bem ter momentos de silêncio e respiro.
E que eu não precisava encher a minha cabeça de inputs o tempo todo.
O vazio nos permite sentir. Ele é o caldeirão das nossas alquimias internas. E sem ele, não tem espaço parar criar.
Como você tem encarado os seus vazios?
O quanto o seu silêncio te incomoda?
Sincronicamente, no último sábado fui em uma edição do TedX aqui na minha cidade cujo tema central foi “Era para ser humano” e uma das palestras falou exatamente sobre o vazio.
Nela, a cantora e compositora Mariana Nolasco nos trouxe algumas provocações sobre o silêncio que me inquietaram e gostaria de dividir um pouco do meu olhar por aqui.
O silêncio mora dentro de cada um de nós. E para acessar esse silêncio, precisamos encarar os nossos vazios.
Do contrário, vamos passar uma vida anestesiados com o barulho.
Você conhece o seu silêncio?
🏹 Para ir além e expandir a consciência
Como forma de convite para que mergulhe no seu silêncio, hoje não vou compartilhar uma lista de curadorias como faço semanalmente.
Vou compartilhar duas práticas que me ajudam muito a ouvir os meus próprios silêncios e quem sabe te inspirem também.
Meditação: não precisa ser sentada na posição de lótus recitando mantras em línguas difíceis. Você pode meditar enquanto lava louça, caminha com seu cachorro ou toma banho. Só precisa de um momento de presença, centrada no agora. Se quiser, pode colocar músicas que te ajudem ou até mesmo meditações guiadas. O importante é silenciar o externo e olhar para dentro.
Escrita: a melhor forma de transbordar o que enche a nossa cabeça é por meio da escrita. Pegue uma folha em branco e comece. Não tem segredo, basta de escrever a primeira letra e deixar fluir. Escreva para você, como forma de organizar ideias e acalmar o coração. E se quiser compartilhar um dos seus textos comigo, vou adorar ler.
Extra: essa música aqui da Mariana Nolasco para te ajudar a resgatar a sua essência.
🫀Sobre a autora dessa Newsletter
Olá, eu sou a Cynira Helena.
Escritora, astróloga, ativadora de paixões e estrategista de marcas originais.
Sou adepta da “escrita visceral”, sagitariana, amante dos bons livros, entusiasta da arte e apreciadora de ouvir novos idiomas enquanto tomo uma boa xícara de café coado e viajo por aí.
Se de alguma forma o que escrevi ressou com você, não esquece de curtir, deixar um comentário ou responder por e-mail (se prefere uma conversa mais próxima) me contando tá?
Seja bem vindo(a) ao meu Universo particular.
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Um abraço e até quarta-feira que vem!
Cynira Helena - e os meus vazios.
PS - Sentir e falar sem medo sobre os meus vazios e emoções é o que devolve a minha humanidade e me faz perceber o quanto estou realmente conectada a minha essência. Obrigada pela companhia e pelos afetos! Eu realmente me sinto em casa com vocês e espero que também se sintam assim aqui no meu espaço.
Que incrível, Cynira. Muito obrigada!
Às vezes, é profundo olhar para dentro e perceber tudo o que faço só para me convencer de que sou algo que, no fundo, não sou. Mas descobri que esse movimento me inspira profundamente.
Gosto muito de uma frase da escritora Marla de Queiroz:
"A busca pelo autoconhecimento fez com que eu me tornasse o meu material de trabalho."
O silêncio, o vazio, eu com o outro, eu sem o outro, eu no mundo: o meu material de trabalho.
Amei receber esse texto hoje!
Perfeito! Amei muito essa edição