{Cartas da Itália #6} Botão de Emergência
O que fazer quando tudo dá errado?
Não existe viagem perfeita. Por mais que a gente planeje cada detalhe, sempre haverá um perrengue, uma burocracia ou uma surpresa no meio do caminho.
Viajar nos transporta para cenários novos e instigantes, mas também nos lembra – da forma mais real possível – que o inesperado sempre encontra uma brecha para entrar na história.
E se nos últimos dias o acaso me surpreendeu de forma mágica, dessa vez o universo decidiu brincar um pouco comigo.
Logo que cheguei a Verona, fui recebida com um imprevisto daqueles.
Estava animada para finalmente conhecer a cidade que é palco da história de amor mais famosa de todos os tempos (e que já custou muitas lágrimas). Mas, por alguma razão que ainda não compreendi de forma racional, fui impedida de viver essa experiência como imaginava.
Não vou entrar em detalhes, mas posso garantir que está tudo bem comigo – aliás, com a gente. Depois do susto, conseguimos rir de tudo o que aconteceu.
Ainda assim, a situação me fez refletir sobre como lidamos com imprevistos e, principalmente, quem são nossas redes de apoio quando as coisas saem do controle.
Foi uma lição para integrar, na prática, o aprendizado da minha palavra-guia do ano: flow.
Porque confiar no fluxo da vida também significa aceitar que alguns caminhos são desviados por razões que nem sempre conseguimos entender na hora.
Talvez não era para eu estar em Verona naquele dia.
E não foi dessa vez que deixei minha carta para Giulietta. Mas, ironicamente, estou aqui escrevendo esta para você.
O botão de emergência italiano
Falando em imprevistos e emergências, reparei em um detalhe curioso nos banheiros dos hotéis aqui na Itália e achei que valia compartilhar: um cordão vermelho com um puxador, posicionado perto do chuveiro ou vaso sanitário.
O nome oficial é Campanello di emergenza." E a sua função exatamente o que parece: um dispositivo de segurança para casos de mal-estar ou quedas. Ao puxá-lo, um alarme é acionado na recepção ou em um setor de emergência do hotel.
Não sei se esse sistema existe em outros lugares do mundo ou se é um costume específico daqui, mas a primeira vez que vi foi na Itália. E desde então, não parei de pensar nele.
A situação inesperada que vivi em Verona, somada a esses campanellos di emergenza, me fez refletir: quem são os nossos "botões de emergência" na vida?
Quem são as pessoas que podemos acionar quando tudo desanda? Quando o imprevisível acontece e precisamos de um suporte – seja ele físico, emocional ou até mesmo logístico?
A principal razão pela qual o que aconteceu comigo não se transformou em um problema maior foi o fato de eu ter o apoio do Lúcio. Ele foi o meu botão de emergência. E por isso, apesar do susto, conseguimos transformar o caos em risada.
E você, quem é o seu botão de emergência?
Não sei se já viu um vídeo viral que tá rolando no Instagram e TikTok onde as pessoas mostram cenas de momentos aleatórios e cômicos de alguém que seria seu contato de emergência. Alguém que não apenas te ajudaria em um perrengue real, mas que tornaria a situação menos desesperadora e, quem sabe, até motivo de risada depois.
A verdade é que a companhia certa faz toda a diferença. Nem sempre conseguimos evitar os perrengues, mas poder compartilhá-los com pessoas que tornam o caos mais leve já é um alívio.
A burocracia é universal
Aliás, já que estamos falando de caos e imprevistos… uma boa parte do nosso dia em Verona foi passada no Poste Italiane – que é tipo uma mistura entre os Correios e o Poupa Tempo do Brasil.
Entre filas intermináveis, desafios com o idioma e uma boa dose de confusão, passamos por 4 unidades diferentes tentando resolver burocracias. No fim das contas, descobrimos que a Itália pode ser tão ou mais burocrática que o Brasil.
A ilusão de que existem lugares perfeitos, onde tudo funciona impecavelmente, desaparece no momento em que você precisa resolver algo fora do roteiro turístico. Sair da zona de conforto pode ser um convite para o encantamento, mas também para a frustração.
E é aí que entra outro aprendizado: quem está ao seu lado nesses momentos faz toda a diferença.
No final do dia, entre uma espera e outra, encontramos razões para rir das situações absurdas, trocamos olhares cúmplices sobre as peculiaridades culturais e percebemos que, mesmo no caos, existe um certo conforto na companhia certa.
Porque, no fim das contas, a vida é isso: feita de momentos altos, baixos e, principalmente, das histórias que conseguimos contar depois. Especialmente para uma escritora que está sempre em busca de novas inspirações.
Se tem algo que aprendi nessa viagem, é que o imprevisível sempre faz parte da jornada. Mas talvez o que realmente importe não seja evitar os imprevistos, e sim saber com quem podemos contar quando eles aparecem.
Então, te pergunto: quando tudo sai do roteiro, quem é a primeira pessoa que você chamaria?
E mais do que isso: será que você também tem sido um bom botão de emergência para alguém?
📖 Inspiração Literária
O inesperado sempre tem um jeito curioso de reorganizar as coisas. O que parece um grande colapso a primeira vista, muitas vezes, é só o começo de uma nova jornada.
E já que o tema de hoje foi praticamente o caos que vira cosmo, minha sugestão literária para mergulhar ainda mais nesse assunto é "Antifrágil: Coisas que se Beneficiam com o Caos", de Nassim Nicholas Taleb.
Neste livro, Taleb apresenta um conceito poderoso: algumas coisas na vida não apenas sobrevivem ao caos, mas crescem com ele. Enquanto buscamos estabilidade e controle a todo custo, a realidade nos ensina que o imprevisível é inevitável – e, em vez de lutar contra isso, podemos nos tornar mais antifrágeis.
No fundo, é sobre entender que a vida não segue um roteiro previsível. E que muitas vezes, os maiores aprendizados vêm justamente dos desvios inesperados.
Então, fica a recomendação: talvez o caos não seja um inimigo – só esteja tentando nos fortalecer. E quem está ao nosso lado quando passamos por esses momentos caóticos, faz toda a diferença.
📌 Próximos Passos
Quando comecei a escrever as Cartas da Itália, a ideia era seguir uma ordem cronológica. Mas, ironicamente, essa viagem tem me ensinado a soltar o controle e deixar o fluxo guiar a narrativa.
Por isso, a carta de hoje não segue uma linha do tempo exata – ela é simplesmente o que precisava transbordar do papel nesse dia.
Já estamos em um novo destino, vivendo novas experiências que, em breve, vão se transformar em novas edições dessa newsletter. Se quiser acompanhar os bastidores em tempo real, me segue lá no Instagram, onde estou compartilhando mais detalhes dessa jornada literária.
E agora quero saber de você: essa carta ressoou de alguma forma? Me conta lá aqui nos comentários ou responde esse e-mail – adoro saber como essas palavras chegam até você.
Ah, e se essa foi sua primeira edição por aqui, se inscreva para não perder as próximas.
Nos vemos na próxima carta. ✨
Um abraço com a energia do caos e cosmo.
Cynira Helena
Maravilhoso 😍