{Cartas da Itália #2} Em busca do caderno perfeito...
O desfecho na jornada de encontrar o caderno dos meus sonhos...
📩 Crônicas em tempo real da minha jornada literária pela Itália.
Uma mistura de andanças, escrita, leituras e sincronicidades para quem encontra nas viagens grandes musas inspiradoras.
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Caro/a leitor/a,
Reza a lenda de que Ernest Hemingway escreveu os rascunhos de suas grandes obras literárias em um caderno Moleskine.
Ele era um dos muitos artistas e escritores renomados que adotaram o caderno como seus fiéis companheiros de anotações.
O Moleskine, com sua capa preta de couro e design clássico, tornou-se um símbolo de criatividade e intelecto, sendo usado por personalidades como Van Gogh, Picasso e Chatwin.
Jack Kerouac, o autor do romance “On the Road” - queridinho daqueles que sentem a ânsia de colocarem uma mochila das costas e percorrerem o mundo - escreveu essa obra de arte em um rolo de papel de 36,5 metros, em apenas três semanas, no seu apartamento em Nova York.
Curiosamente, ele nomeou essa forma de escrita inovadora como "prosa espontânea", refletindo a energia e o ritmo da cultura beat, que influenciou gerações de escritores.
A verdade é que todo/a escritor/a precisa de um fiel companheiro para compartilhar as suas infinitas ideias e documentar os seus devaneios - sem risco de esquecimento.
Na maioria das vezes, esses companheiros assumem a forma de inofensivos cadernos. Tamanhos, formatos, texturas e cores ficam a critério do gosto daquele que vai preenchê-lo.
Ao longo da vida, criei o hábito um tanto peculiar e também adotado por alguns sonhadores declarados: de comprar um caderno novo sempre que faço uma viagem e conheço/revisito um lugar especial.
Dessa vez não foi diferente. Com o detalhe de ter um grande fator agravante: seria uma experiência imersiva literária em que eu fazia questão de registrar tudo de forma analógica. Ou seja, o caderno de registros seria mais do que essencial nessa história.
Confesso que evito comprar cadernos em aeroportos ou rodoviárias. Não sei, mas esse ato me soa como erro de iniciante e, na maioria das vezes, os itens estão superfaturados.
Então nem sequer olhei para os cadernos expostos nas lojas do aeroporto de Milão, por onde cheguei.
Assim que pisei em Bolonha - o meu primeiro destino oficial - comecei a saga de encontrar o caderno perfeito.
Naquele momento, não sabia explicar exatamente como ele seria. Só tinha a certeza de que quando visse o caderno certo, saberia na hora que era ele o escolhido.
Nadando contra a corrente
Diferentemente de Hemingway e outros gênios das artes, dessa vez eu sentia que o caderno da vez não seria um clássico Moleskine. Nada contra a marca - muito pelo contrário: eu mesma já preenchi com entusiasmo inúmeras páginas de moleskines ao longo da jornada na escrita.
Também me identifico bastante com a história e o conceito da empresa.
Mas me lembrei de um antigo ditado que diz: "Em Roma, faça como os romanos".
Mesmo o meu destino não sendo Roma, eu estava em solo italiano. Então tinha certeza de que precisava de um pouco da mágica desse país em minhas criações. E nada como ter um fiel escudeiro com a alma italiana.
Com uma vasta experiência no universo dos cadernos - já são uns bons 28 anos da minha vida desde que descobri os diários aos 7 anos de idade e tenho guardado até hoje pelo menos uma centena deles - logo busquei no meu repertório informações sobre “cadernos italianos”.
Já tinha comprado algumas variações deles nas outras vezes em que estive no país, então sabia da fama dos italianos em produzirem cadernos autênticos e cheios de história - eles levam a sério o famoso “made in italy”.
Mas o destino tem dessas de pregar algumas peças nesses momentos cruciais. Então é claro que encontrar o caderno perfeito não foi tão rápido quanto eu tinha imaginado.
Falhei miseravelmente no primeiro dia em Bolonha.
Além de inúmeros moleskines - que estavam fora de questão - me deparei com outras opções nem um pouco italianas. Algumas daquelas versões “made in china”, em que encontramos em qualquer loja de R$1,99 do Brasil (e que nunca custam só R$1,99), outros grandes demais (queria um no tamanho 13x21 cm), outros muito pequenos e alguns poucos sem aquele tempero especial.
Fui dormir preocupada em não encontrar meu item tão precioso e perder a experiência de escrever a mão todos os meus devaneios.
Mas logo me lembrei da palavra guia do meu ano: flow - e com ela a certeza de que as coisas certas chegam até nós na hora que precisam chegar. Bastava confiar no fluxo do universo.
E eu não poderia estar mais certa: no dia seguinte, o meu tesouro secreto chegaria para mim em um daqueles momentos de descuido.
O Caderno Perfeito
Hoje acordamos um pouco além do planejado - resquícios do jat leg e da insônia durante o vôo. Mas diferente de outros momentos em que eu ficaria nervosa com o atraso e com ele a possibilidade de não conseguir fazer tudo que queria naquele dia, novamente me apeguei a palavra guia do meu ano que virou praticamente um mantra: fé no flow.
Então ao invés de procurar no mapa um lugar específico para a gente tomar café, simplesmente falei: vamos andando até a praça central e lá a gente escolhe uma cafeteria que achar bacana.
Só não imaginava que o meu caderno perfeito estaria me esperando exatamente no meio do caminho.
E foi assim que, ao me deparar com uma livraria charmosa no trecho até o centro histórico da cidade, senti um chamado de entrar no interior do local e dar uma olhada nos livros.
Enquanto perambulava pelos corredores cheios de obras literárias, dei de cara com uma estante recheada dos itens que mais desejava: cadernos.
E o melhor: todos de uma marca originalmente italiana.
E o melhor parte 2: exatamente no tamanho que eu queria. E disponíveis na cor que está na minha lista de queridinhas dessa temporada: azul marinho.
Não hesitei nem por 1 segundo e logo agarrei o meu escolhido. Naquele instante, a mágica estava feita e finalmente tinha encontrado aquilo que tanto buscava justamente por ter confiado no fluxo do universo.
"Os encontros mais importantes já foram combinados pelas almas antes mesmo que os corpos se vejam."
📖 Inspiração Literária
Inspirada por essa temática de encontros, cadernos e sincronicidades logo me lembrei do conto “Felicidade Clandestina” da minha grande inspiração Clarice Lispector.
A história gira em torno de duas meninas, uma narradora que deseja ardentemente um livro e a filha do dono da livraria, que usa o livro como forma de tortura psicológica. A menina má tem prazer em negar o livro a narradora, enquanto esta última sofre com a expectativa e a frustração de não poder ler o livro que tanto deseja.
A narradora - que desconfio ser uma representação autobiográfica da própria Clarice- espera ansiosamente pelo livro durante um longo período, mas ele só chega em suas mãos no momento em que ela menos espera, quando a menina má finalmente decide entregá-lo.
Essa história nos convida a refletir sobre a importância de confiar no tempo certo para que as coisas aconteçam e sobre a necessidade de estarmos abertos aos encontros que a vida nos proporciona. Ou seja, ter fé no flow e abertos as infinitas possibilidades.
✨ E você, já esperou ansiosamente por algo que parecia inatingível, para que, no fim, chegasse no momento mais inesperado?
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📌 Próximos Passos
Como bem disse, estamos vivendo uma viagem com menos planejamento e mais experimentações.
Hoje é nossa última noite em Bolonha e amanhã seguiremos rumo ao próximo destino. Teremos uma pequena parada no meio do caminho para resolver algumas questões pessoais, mas depois já estaremos livres para dirigir rumo ao lugar que vai despertar os nossos desejos de descobridores.
E aí, algum palpite ou sugestão?
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Nos vemos na próxima carta. ✨
A liberdade é um luxo que nem todos podem pagar. - Clarice Lispector
Um abraço ainda de Bolonha,
Cynira Helena
adorei só queria mais fotos dos cadernos hahahaha , fui em outubro para Holanda e passei por algo parecido eu queria que minha agenda do ano fosse de la, e consegui. é tao legal essas memórias ne?
Amei 😍 😍 😍 Perfeito!